Arco na serra, chuva na Terra.
Arco-íris no amanhecer, águas antes do anoitecer.
À minha frente, o horizonte limitado pelas serras, aos meus pés, o espelho liquido da Lagoa bordejada de viçosa vegetação. Ao fundo, bem distante dos meus olhos, o azul escuro da tarde nublada. No meio desse contexto natural, a imagem imponente do arco da velha a encher de espanto o meu pequeno mundo de criança.
Na minha inocência, achava que o arco-íris possuía poderes especiais, diferente dos demais fenômenos da natureza. Uma de suas pontas, segundo a crendice, puxava a água do céu para a terra e a outra levava o vento para formar as nuvens. Como era belo acreditar que em suas cores ocultava um pote cheio de moedas de ouro.
Era como se fossem as asas de uma enorme borboleta multicolorida ligando o céu e a terra, fazendo pose, causando inveja aos olhos do mundo. Um ornado portão no infinito para a passagem da chuva e do vento em busca da renovação da natureza. Um elo de ligação entre o real e o imaginário, tão efêmero quanto a sua visibilidade. Assim era a imagem do arco-íris no decorrer de minha infância. Ele debruçado sobre as nuvens, eu sobre as janelas dos meus sonhos. Entre nós, o infinito azulado tomado como refém pelos seus encantos e magias.
Quedava-me tomado de medo quando se propalava que entrando no arco da velha a pessoa mudava de sexo e que por essa razão Deus o havia criado para não ser tocado. O fascínio de sua beleza podia atrair e encantar qualquer vivente. O que mais me impressionava, entretanto, era vê-lo ao pôr-do-sol estampado no firmamento, equilibrando-se sozinho no espaço.
Achava ainda que a sua existência dependia das fontes naturais e que o nosso bairro era privilegiado com a sua presença por conta da Lagoa. Um dia fiquei surpreso e confuso quando alguém ao meu lado gritou: - O arco-íris está bebendo a água do rio para fazer a chuva! O tempo passou e o arco do céu demorou de aparecer. Certa manhã levaram-me para a escola, onde aprendi a decifrar certos mistérios da vida. Por conta disso o meu mundo de fantasia foi se desfazendo. À luz da ciência descobri que o seu corpo é uma síntese de sete cores. Só não aprendi ainda por que lhe deram o apelido de Arco da Velha.